A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o mundo precisa se preparar para uma nova onda global de casos de Covid-19, causada pelas subvariantes da ômicron. A instituição recomenda que os países voltem a impor protocolos de proteção para conter o avanço do vírus, como o uso de máscaras, principalmente, para proteger os grupos de risco, como os idosos.
O alerta é especialmente importante no Brasil, uma vez que muitas cidades já suspenderam o uso de máscara e o país ainda não conseguiu vacinar toda a população. Atualmente, cerca de 80% dos brasileiros têm o primeiro ciclo vacinal completo e menos da metade tomou a dose de reforço.
Apesar de termos reduzido gradativamente o volume de casos graves e óbitos com o avanço da imunização, evitar a contaminação dos grupos de risco pelo coronavírus deve seguir como uma prioridade para o sistema público de saúde e para toda a sociedade — uma vez que cada um deve fazer a sua parte para mitigar a transmissão do vírus.
Neste cenário, apesar de o Brasil já ter iniciado a aplicação da quarta dose da vacina contra o coronavírus em pessoas a partir dos 60 anos de idade, elas continuam muito vulneráveis à Covid-19. Em alguns estados, por exemplo, essa população corresponde aos maiores índices de mortes pela doença.
No Paraná, 82,6% dos mortos por Covid-19 no primeiro semestre deste ano eram idosos, de acordo com os Informes Epidemiológicos da Secretaria da Saúde (Sesa) do estado. O Rio Grande do Sul teve um patamar semelhante no primeiro bimestre: 83%, segundo a secretaria estadual de saúde. Os casos de Covid-19, somados aos de influenza, alcançaram o recorde de mortes de idosos acima de 80 anos no primeiro bimestre deste ano em todo o país, conforme dados do Sistema do Registro Civil.
Mas por que os idosos continuam vulneráveis diante da infecção pelo coronavírus? O processo de envelhecimento pode causar falhas ou exageros na resposta imunológico frente ao Covid -19, além disso, tem a presença de doenças crônicas que interferem nas reações adaptativas do organismo durante a infecção.
Nós avaliamos os pacientes que eram hospitalizados, em relação à chance de evolução para insuficiência respiratória grave, com necessidade de ventilação mecânica e morte durante o período de internação. Ao final do estudo, constatamos que os níveis de vitamina D no sangue menores que 40ng/mL, anemia, proteína C-reativa (um marcador de inflamação) maior que 80ng/mL e comprometimento pulmonar maior que 50%, apontado na tomografia computadorizada, foram preditores importantes para insuficiência respiratória grave e necessidade de ventilação mecânica. Dentre os participantes da pesquisa, 16,9% evoluíram para este quadro.
Em contrapartida, o estudo demonstrou que a chance do paciente ser intubado é seis vezes maior quando ele tem níveis de vitamina D menores que 40 ng/mL, se comparado àqueles que tem a vitamina acima deste valor, independente de outros fatores.
Ainda não se sabe o motivo, no qual a vitamina D atua no organismo humano, atenuando o impacto da infecção, mas já existem algumas evidencias sobre a ação dela no sistema imunológico, microbiota e na produção de substancias inflamatórias e anti-inflamatórias.
O estudo, publicado pelo periódico científico internacional BMC Geriatrics1, também constatou que, os fatores para mortalidade eram diferentes daqueles associados a insuficiência respiratória, como fibrilação atrial (um tipo específico de arritmia cardíaca), histórico de câncer e o aumento de uma das principais substâncias inflamatórias relacionadas à Covid-19, a interleucina 6. A anemia também foi preditora de morte, mas de forma menos intensa que os demais.
Portanto, diante deste contexto, abrangendo a cobertura vacinal parcial, o relaxamento das medidas de prevenção à contaminação pelo coronavírus e a nova onda de infecções que vivemos, com alta de morte de idosos, é prioritário que continuemos cuidando deste grupo de risco com extrema atenção.
Reforçar os protocolos sanitários junto aos maiores de 60 anos de idade, manter a continuidade dos tratamentos das doenças pré-existentes, zelar pelo seu estado de saúde em geral e seguir reforçando a imunização são fundamentais para vencermos mais uma fase desafiadora da pandemia.
Alberto Frisoli Junior é professor Afiliado da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e médico geriatra do Hospital Israelita Albert Einstein.