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Cuidados com a segurança medicamentosa na atenção domiciliar

by viviejaque

Marianna Almeida Ferreira*

A atenção domiciliar é uma modalidade de prestação de serviços em saúde que acontece na residência do paciente, oferecendo mais conforto e humanização. Mesmo em casa, é necessário que sejam observados os protocolos e as boas  práticas para que a segurança dos pacientes seja o foco de todos os atores envolvidos na prestação do cuidado. Nesse sentido, um dos pontos cruciais para a segurança do paciente na atenção domiciliar está ligado à segurança medicamentosa.

A maioria das consultas médicas gera prescrição medicamentosa. E, nas quatro últimas décadas, a preocupação com o item “segurança” passou a ter importância igual ou maior que a relativa ao item “eficácia terapêutica”, merecedor de atenção prioritária durante muito tempo. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o uso inadequado de medicamentos constitui um verdadeiro problema de saúde pública em âmbito mundial, sendo a “medicação sem danos” o tema do terceiro Desafio Global de Segurança do Paciente da Organização Mundial da Saúde (OMS). Para proteger os pacientes, o Desafio definiu três áreas prioritárias nas quais eles se tornam mais vulneráveis: situações de alto risco, polifarmácia e transições de cuidados.

A alta hospitalar é um dos momentos críticos da transição de cuidados, por  acarretar alterações significativas na farmacoterapia dos pacientes, devido à substituição ou à suspensão dos medicamentos usados, ou, ainda, à prescrição de novos medicamentos. Neste momento, o profissional farmacêutico deve prestar orientações quanto ao uso, às indicações, às interações (medicamentosas e alimentares), aos efeitos colaterais, aos medicamentos via sondas (enterais e nasoenterais), à guarda, à administração e ao descarte de medicamentos para a equipe multidisciplinar, para o paciente e seus familiares.

Para a adequada continuação do cuidado com a terapêutica medicamentosa em domicílio, é preciso que seja observado o armazenamento dos medicamentos. Parte da população pensa que ter medicamentos guardados em casa é uma questão de prevenção, desprezando cuidados adequados com o armazenamento e o consumo desses fármacos. Os medicamentos devem ser protegidos da luz, do calor e da umidade; deve-se utilizar, preferencialmente, o medidor que acompanha o medicamento, evitando o uso de colheres caseiras; e, por fim, os medicamentos devem ser descartados de maneira correta (não devem ser colocados no lixo comum nos municípios, há locais de coleta, como unidades de saúde e drogarias). 

É importante consultar um farmacêutico caso seja observada qualquer mudança no medicamento (alteração na cor, existência de mancha ou cheiro estranho), uma vez que, ao não serem observadas as recomendações de boas práticas, o medicamento pode se tornar ineficaz ou acarretar efeitos indesejáveis, inclusive nocivos, à saúde do paciente, se ingerido de maneira equivocada. 

Utilizar as sobras de tratamentos concluídos com sucesso ou medicamentos de venda livre para se automedicar, sem compreender a sintomatologia, também é uma outra questão de segurança frequente que precisa estar no radar de familiares, cuidadores e profissionais da saúde que acompanham os pacientes na assistência em casa.

Existem diversas estratégias que podem ser usadas em casa para facilitar a organização, a compreensão e o monitoramento para o uso adequado do medicamento, como, por exemplo, caixas organizadoras de medicamentos, quadros de orientações sobre o uso de medicamentos e treinamentos práticos aos pacientes sobre administração de medicamentos por sonda.

Entre essas estratégias, devemos dar especial atenção às caixinhas de plástico com divisórias usadas para colocar os medicamentos a serem utilizados ao longo do dia ou da semana. Essa prática não é recomendada, pois dificulta a identificação dos medicamentos, podendo ocasionar confusão e erros no momento do uso, e a estabilidade físico-química do medicamento poderá ser afetada, uma vez que essas caixinhas não propiciam a proteção adequada ao medicamento.

Para segurança no uso de medicamentos em ambiente domiciliar, é importante seguir gerenciando todas as etapas da cadeia medicamentosa com uma prescrição adequada (se possível, com revisão periódica de medicamentos, com o intuito de reduzir ao máximo o número de fármacos ingeridos diariamente), armazenando os medicamentos e os produtos para saúde, garantindo que cheguem e  permaneçam em domicílio com qualidade e segurança, bem como com administração de medicamentos orientada e monitorada.

* Farmacêutica, mestra em Assistência e Avaliação em Saúde e gestora de Qualidade.

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