André Minchillo*
Uma ótima análise sobre o Setor de Saúde no Brasil, realizada pela Consultoria Deloitte, aborda as possibilidades de inovação nos sistemas de saúde. Entre as possibilidades sugeridas, a criação de um ecossistema assistencial, em que o atendimento extrapola as barreiras físicas e operacionais, deve ser observada.
Não há mais dúvidas de que a atenção domiciliar no Brasil é um setor que está se aprimorando há algumas poucas décadas e colaborando para a ampliação dos ambientes de cuidados à saúde.
A inserção, nesse contexto, não se deve somente ao importante momento demográfico, com aumento da expectativa de vida. Leva-se em consideração a necessidade de mudanças do modelo assistencial no esforço de compreender os novos hábitos do consumidor e suas experiências com ênfase na saúde e no bem-estar.
A observância da correta utilização dos recursos financeiros e humanos no atendimento aos pacientes, perseguindo o equilíbrio da alta qualidade assistencial com custos viáveis, faz, novamente, as empresas de atenção domiciliar comportarem-se como parceiros estratégicos.
Tornando-se sistemas de cuidados inteligentes, adequados, acessíveis e sustentáveis, o ambiente para atendimento aos pós-agudos chega às nossas residências como opção para a continuidade dos cuidados.
Isso explica o forte crescimento do setor demonstrado pela recente pesquisa do Núcleo das Empresas de Atenção Domiciliar (Nead), no Censo produzido em 2020 em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Em poucos anos, o número de estabelecimentos de saúde em atenção domiciliar passou das 800 empresas. O grande contingente de profissionais de saúde nas diferentes especialidades atuando em home care registra mais de 15 mil por mês. Milhões de pacientes estão recebendo algum tipo de cuidado em sua própria casa. O produto interno bruto (PIB) do setor cresce a cada ano, atingindo, em 2020, R$ 10 bilhões.
Essa expansão não se restringe somente à iniciativa privada. O Sistema Único de Saúde (SUS) vem mostrando importantes resultados em todos os aspectos, permitindo acesso aos seus programas assistenciais a milhões de brasileiros.
Entretanto, para atuar nesse mercado, importantes desafios devem ser vencidos. As empresas devem melhorar seus processos para permitir uma gestão dos complexos processos de logística e administração. De forma crescente, a procura por entidades de acreditação demonstra a preocupação com modelos sustentáveis e eficientes no atingimento dessas metas.
Todos esses aspectos, ao trazerem eficiência e diminuição do desperdício e do retrabalho, são essenciais para conviver com sistemas de pagamento de diárias globais, que impactam fortemente os resultados operacionais e financeiros.
O embarque da tecnologia alcança padrões inéditos. Impossível operar sem o apoio de prontuários eletrônicos ou plataformas que permitam análises dos principais indicadores assistenciais, financeiros e de qualidade dos serviços oferecidos.
Com o advento da pandemia de Covid-19, exigiu-se, por parte dos órgãos regulatórios, a inclusão da telemedicina como mais uma ferramenta de atendimento, tornando-se um canal eficiente de contato com o paciente ou familiar. Tecnologia que veio para ficar, ela também traz novos desafios, como adequação de equipes e tratamento da infraestrutura adequada.
Permeando o tema da tecnologia em saúde, seguem firmes as startups que pesquisam sobre o uso de inteligência artificial, sensores para monitoramento de padrões clínicos e outras inovações que auxiliem os pacientes nos seus cuidados.
O mercado de saúde está em franca consolidação em vários setores dessa indústria. Embora esteja no radar de grupos investidores e algumas aquisições tenham ocorrido nos últimos anos com empresas de atenção domiciliar, a assimetria de informações entre os atores desse segmento prejudica a análise de viabilidade, segundo alguns analistas. Desta forma, as empresas, sob a pena de perderem oportunidades de negócios, devem se estruturar para que sejam atrativas ao olhar do consolidador.
Como estratégia de crescimento, temos a opção por entregar a prestação de serviços em diferentes locais e a abertura de filiais por parte de várias empresas nos diferentes estados, principalmente Norte e Nordeste, para suprir a demanda das operadoras de planos de saúde com participação nacional.
Atendendo a aproximadamente 45 milhões de brasileiros, são os planos privados os maiores contratantes da atenção domiciliar. Desta forma, o esforço de diferenciação entre os prestadores é vital para endereçar um amplo escopo de serviços em diferentes níveis de programas assistenciais. Tornar-se e, sobretudo, manter-se parceiro estratégico exige contínua evolução nos padrões éticos, comportamentais e de eficiência por resultados.
O setor da atenção domiciliar carrega consigo um marco histórico no Brasil, ao incluir a residência como local de atendimento à saúde em uma época em que havia a supremacia do modelo hospitalocêntrico.
Ao longo do tempo, vem-se repensando o modelo assistencial, criando soluções que permitam excelência nos cuidados aos pacientes e melhorando a experiência deles. Nesse ecossistema que se expande e traz novas possibilidades, o home care tem excelentes perspectivas para o futuro.
Cresce, então, a responsabilidade dos gestores em galgar novos conhecimentos e explorar novas oportunidades neste novo mercado pós-pandemia, atuando com responsabilidade ambiental, cultural e social.
* Médico e gestor em saúde.