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A atenção domiciliar na era da saúde 5.0

by viviejaque

Fabiana Lebram*

É fato que a pandemia de Covid-19 acelerou a transformação digital no Brasil, bem como evidenciou a necessidade de termos e fomentarmos uma cultura de inovação, principalmente quando nos referimos à reorganização dos sistemas de saúde e seus processos, visando desenvolver uma prestação de serviços em saúde com mais qualidade, segurança, eficiência, conforto e humanização para o paciente. 

Com a utilização da medicina conectada (telemedicina) e da telessaúde de cuidados integrados, conseguimos ampliar o acesso e a qualidade dos serviços ofertados, por meio de novos desenhos de fluxos de atendimento, logística em saúde, em que integramos os meios digitais para melhorarmos a jornada do paciente. Aos poucos estamos acompanhando a transformação do modelo de saúde hospitalocêntrico para o modelo de saúde preventivo, baseado em valor gerado para paciente e para sistema de saúde, por intermédio de uma medicina de cuidado híbrido, mais preditiva, analítica, contenciosa e centrada no paciente.

A tendência de envelhecimento da população brasileira e mundial, e, consequentemente, a possibilidade de desenvolverem mais doenças, é outro agravante ao modelo de saúde atual. 

No cuidado híbrido integrado, incorporamos os diversos recursos tecnológicos para otimizar o acompanhamento e o tratamento dos pacientes, ampliando o cuidado integrado para a casa/domicílio do paciente. Com a utilização da telemedicina, que abrange a teleconsulta, o telediagnóstico, a teleorientação e, sobretudo, o telemonitoramento dos pacientes, associada a dispositivos médicos, wearables e biossensores (IoMT), conseguimos permitir a interação entre os profissionais e os pacientes. 

O telemonitoramento ajuda os profissionais da saúde na prevenção e no cuidado contínuo de pacientes sujeitos a complicações clínicas graves. Desse modo, evita internações e, em consequência, humaniza o atendimento. Além disso, é possível estimular o engajamento dos pacientes no seu próprio cuidado, por meio de orientações e medidas educativas.

E a pandemia evidenciou ainda mais a necessidade da ampliação do cuidado para o home care, visando à continuidade dos tratamentos, e da necessidade de mantermos o distanciamento social, liberarmos os leitos dos hospitais e desafogarmos as unidades de saúde.

Mesmo depois da alta hospitalar, muitos pacientes que tiveram Covid-19 precisam continuar o tratamento médico e, com hospitais lotados, a alternativa tem sido o atendimento em casa. Mais cômodo e confortável para o paciente, esse tipo de tratamento cresceu 15% no ano passado e a expectativa é de que cresça ainda mais esse ano. Além disso, podemos citar como benefícios diretos os baixos índices de infecção, a maior adesão aos tratamentos sugeridos e a recuperação mais rápida dos pacientes.

Na era da saúde 5.0, além das tecnologias mobile, que permitem que profissionais e pacientes interajam a qualquer hora, em qualquer lugar, destacamos o papel da inteligência artificial (IA) e da robotização, tanto para auxiliar na gestão, no diagnóstico e no tratamento em saúde, quanto para ajudar o paciente e facilitar seu monitoramento em casa. Essa infraestrutura das casas inteligentes, incorporada aos demais recursos tecnológicos em saúde, acelerados pelo advento do 5G, possibilitará criarmos uma cadeia de cuidados em saúde integrada, conectada e contínua.

A utilização de dispositivos e wearables interligados/conectados com smartphones, capazes de captar e transferir as informações e os sinais vitais do paciente em casa para a equipe de assistência, possibilita monitoramento remoto constante, em que intervenções mais assertivas a qualquer sinal de alteração ocorrem antes que se agrave o quadro clínico do paciente. Este telemulticare permite uma abordagem mais preventiva, preditiva, contenciosa, com maior participação por parte do paciente na manutenção da sua qualidade de vida.

A tendência é nos tornarmos mais participativos e corresponsáveis na gestão de nossa saúde. Mas não para autodiagnóstico, e sim para compartilharmos esses dados com um médico e uma equipe multidisciplinar, para que, juntos, como um time único, possamos chegar às melhores decisões para nossos problemas de saúde.

Dessa forma, a atenção domiciliar ampliada, por meio da medicina conectada e da telessaúde de cuidados integrados, em conjunto com uma logística de cuidados eficientes, e pacientes como cogestores de sua saúde, serão a base da saúde 5.0, que tem a valorização humana como pilar fundamental.

*Odontóloga e gestora hospitalar. Consultora em serviços de saúde (gestão e saúde digital) com projetos em telemedicina. Atualmente, é superintendente da Núcleo Core Gestão Holística em Saúde, unidade Salvador.

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