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Quais emoções você espelha ou espalha?

by viviejaque

Como você reage às emoções negativas do paciente ou da família dele? Se ele está irritado, com raiva, mal humorado ou calado, você acumula os sentimentos dessa pessoa, trata mal, briga, critica mentalmente e se afasta dela? Ou você oferece o oposto do que ela mostra para romper esse ciclo, como uma palavra para quebrar o mal humor, um sorriso sincero?
Você absorve a energia negativa que o outro traz ou espalha a energia positiva que deseja?

Quando você sente alguma emoção positiva e sorri, a partir de vivências ou memórias suas, certos neurônios em seu cérebro são ativados. Quando outra pessoa sorri para você, muitos dos mesmos neurônios que dispararam quando você sorriu sozinho são novamente ativados. Isso mostra o quanto nós podemos “espelhar” uns aos outros, incluindo nossas emoções. A esse fenômeno chamamos contágio emocional.

 A expressão contágio emocional é descrita como “a tendência pessoal de mimetizar e sincronizar expressões faciais e corporais, vocalizações faladas e cantadas, posturas e movimentos de outra pessoa, de modo a convergir emocionalmente”. Trata-se de um fenômeno multiplicador, no qual a emoção é percebida e interpretada por outra pessoa e desencadeia uma experiência emocional correspondente ou complementar, positiva ou negativamente.

Espelhar – e espalhar – emoções positivas ou negativas tem implicações no mundo real. Por exemplo, um estudo do jornal Accident Analysis and Prevention descobriu que o contágio emocional negativo, como a raiva no local de trabalho, levou a mais erros cognitivos e acidentes de trabalho. 

Mas, como espelhar ou espalhar emoções positivas se, muitas vezes, nem reconhecemos elas em nossas vidas?

EIS O PRIMEIRO PASSO: É PRECISO RECONHECER O QUE VOCÊ E SEU PACIENTE SENTEM E ENTENDER DE ONDE VEM ESSE SENTIMENTO!

A crença de que somos racionais, objetivos, focados em metas e resultados gera uma ilusão de que, para progredir, precisamos suprimir as paixões e as emoções. Somos muito bons em teorizar, falar de conceitos e processos, e muito ruins em expressar e entender nossas emoções. Passamos anos na escola estudando como contar, falar, teorizar, compreender os sistemas químicos, matemáticos, físicos e biológicos da vida, mas em nenhum momento estudamos ou nos debruçamos sobre nossas emoções, o que sentimos, como as processar, entender, acolher ou super.

Quanto mais observarmos esse movimento interno de sentimentos, mais aptos estaremos para compreender os sentimentos e as emoções dos outros e cuidar deles. Quanto mais cuidarmos do outro, mais seremos cuidados, e o fluxo de contágio emocional torna-se positivo.

Como aplicar esse fluxo positivo no cuidado domiciliar? Em que o contato emocional é contínuo, intenso e transformador?
Quando se fala em saúde, em hospitais ou em domicílio, é comum pensarmos em medicar, monitorar e analisar o paciente e desconsiderarmos o contexto em que ele vive, sua forma de pensar, seus desejos, seus relacionamentos e seus medos, ou seja, suas emoções.

No âmbito domiciliar, os profissionais estão em contato direto com o paciente e sua família, e há uma atenção quase exclusiva a esse ambiente. A subjetividade envolvida em cada paciente, em cada história, em cada família, em cada dor, permite um aprofundamento da escuta e das relações, e o profissional de saúde pode acabar ocupando um espaço de afeto e acolhimento antes inexistente na vida do paciente.

Para tal, o profissional precisa ter a maturidade de compreender o que são aspectos da doença em si e o que são aspectos emocionais do paciente e sua história, os quais impactam o tratamento.

Para reconhecer e dar sentido aos sinais emocionais, precisamos de três habilidades: percepção, compreensão e regulação das emoções. Perceber e reconhecer emoções faz parte da habilidade de inteligência emocional e é condição para conseguir aceitá-la, regulá-la ou modificá-la.

Para perceber suas emoções e as do paciente, fique atento ao seu corpo e às reações do paciente. Diariamente, sentimos diversas emoções a cada interação, a cada minuto, a cada pensamento. Algumas delas não são notáveis pela natureza transitória ou suave. Outras nos mobilizam, incomodam e paralisam, pela frequência com que aparecem ou por estarem ligadas a questões que consideramos essenciais, invioláveis ou inquestionáveis. Da mesma forma que você, o paciente também sente, se incomoda, sofre ou vibra. Compreender essa evolução em cada etapa do tratamento vai te ajudar a lidar melhor com esse indivíduo.
Pergunte-se diariamente: o que seu corpo está te dizendo? Há alguma taquicardia? Prazer? Irritação? Questione o que está causando essa reação em você. O que você está vendo que incomoda ou agrada tanto? É algo só seu ou da sua interação com o paciente?


Da mesma forma, analise o paciente à sua frente. O que ele está demonstrando sentir? É positivo ou negativo? De onde vem? Há algo na sua atuação profissional que pode ajudar a modificar ou potencializar isso?
Tenha um pequeno caderno em mãos para registrar essas observações sobre você e seu paciente – para ele, você pode deixar registrado em um mural no próprio quarto para que perceba o que está sentindo em cada dia e também reflita sobre si. Será uma interação transformadora!

As emoções falam sobre o que você e o paciente valorizam. Você, como profissional da saúde (médico, enfermeiro, técnico, fisioterapeuta etc.), pode contribuir para modificar o que é negativo ou aumentar o que é positivo em seu paciente. Um sorriso, uma escuta ativa, um toque, o compartilhar de uma história boa, saber o time ou a música que seu paciente mais gosta ou dar uma opinião sobre algo que o aflige são atitudes que podem mudar o dia do seu paciente ou o seu.
Para isso, o diálogo e a percepção do outro precisam existir. Sem interação não há transformação. E sem emoção não há interação. As emoções são a base da vida humana e é por meio delas que devemos sentir o que a vida nos traz e o que podemos oferecer. Mas a escolha final é sua: você quer espelhar e espalhar emoções positivas ou negativas na sua prática profissional?

Mestra e psicóloga positiva.

 

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