Christina A. Ribeiro*
Para atender às necessidades de cuidados, pós-agudos e continuados, a portadores de doenças e condições crônicas em pleno século XXI, é necessário contar com uma equipe de saúde composta por profissionais que tenham habilidades e competências interpessoais, conhecimentos técnicos, adesão a protocolos sustentados por evidências científicas e ética no cuidar. Outro fator importante é que o cuidado seja centrado no paciente e que ocorra parceria e busca por qualidade, informação e valorização da experiência do paciente e de sua família.
No caso da atenção domiciliar, diante de um plano de atenção elaborado ainda no hospital para ser desenvolvido no domicílio, é importante dispor de clareza e recursos humanos para compor, de forma acertada, o elenco profissional que irá atuar no processo assistencial, de maneira individual e em equipe, superando dificuldades diversas e buscando conjuntamente o alcance dos desfechos ou dos resultados esperados para cada caso.
É um grande desafio prestar cuidados no espaço do paciente, na presença de seus familiares e cuidadores, respeitando a cultura, os hábitos e os costumes locais, fazendo cumprir a diretriz técnica, com diferentes formações profissionais, sem perder o foco no paciente, com empatia e resiliência na convivência entre todos os envolvidos.
A considerar o perfil de morbidade e complexidade dos pacientes elegíveis para atenção domiciliar, a equipe pode ser composta por assistentes sociais, médicos, enfermeiros, técnicos/auxiliares de Enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, psicólogos, dentistas, farmacêuticos e outros profissionais especializados, de acordo com cada particularidade.
Em função da complexidade de cada caso, a equipe precisa desenvolver uma visão mais ampliada do processo saúde-doença, ter consciência dos diferentes níveis de atenção, assim como ter competência e sensibilidade para saber o melhor lugar e o tempo estimado para a permanência do paciente, de acordo com seu grau de necessidade de cuidados continuados, utilizando e compartilhando informações por meio da tecnologia disponível.
A consciência profissional necessária é que os pacientes portadores de doenças e condições crônicas, além de atenção e tratamento adequado, necessitam, mais do que pacientes com quadros agudos, receber cuidados por tempo prolongado, coordenados, preventivos, centrados em suas necessidades, para se manterem estáveis, sem complicações e participativos no controle de suas morbidades e no autocuidado.
Cabe à equipe multiprofissional garantir a integralidade do cuidado, respeitar a autonomia e as necessidades do paciente, saber ouvir, comunicar-se de maneira acertada, compartilhar informações, prevenir descompensações, incapacidades e promover bem-estar e estilos de vida mais saudáveis. A interdisciplinaridade inclui postura, formação e prática de um profissional ao se relacionar com o outro, resultando em abordagens mais amplas e resolutivas.
A comunicação e a interação entre os membros da equipe multiprofissional são fundamentais e decorrem da conjunção de habilidades individuais e coletivas que englobam negociação, troca de informações, decisões, resolução de problemas, estabelecimento e compartilhamento de metas, divisão de atividades, papéis e responsabilidades, além da avaliação da progressão dos resultados.
O relacionamento da equipe com o paciente, os familiares e os cuidadores, com compartilhamento de informações sobre tratamento, metas e resultados, estabelece um clima de cooperação e preparo para que responsabilidades sejam assumidas.
A preocupação ou o foco em melhoria contínua requer clareza sobre os desfechos esperados e quais metas foram acordadas no plano de atenção domiciliar. A melhoria da qualidade compreende a segurança do paciente e a eficiência da prestação de serviços.
A utilização de informações e tecnologias de comunicação, com a finalidade de dar suporte à assistência ao paciente, compreende desde anotações adequadas e legíveis no prontuário domiciliar, passando por prescrições de cada área profissional, acesso ao plano de cuidados, até elaboração de relatórios conjuntos, discussão de casos, envio de informações para médicos titulares, responsáveis por pagamento, ações que devem ocorrer de maneira coordenada e gerenciada.
A comunicação entre os membros da equipe atualmente é facilitada pelo uso de prontuário eletrônico, celulares, e-mails, aplicativos diversos, reuniões presenciais ou on-line, telemedicina, inovações tecnológicas que vieram para somar e viabilizar o gerenciamento dos cuidados multiprofissionais.
O registro e a utilização de informações são essenciais para a continuidade da assistência e o monitoramento de pacientes cujos agravos persistem no tempo. A habilidade de olhar o cuidado de saúde por meio de uma perspectiva ampliada, de saúde populacional, fortalece a equipe multiprofissional para compreender a importância de seu engajamento e a sua responsabilidade no sistema de saúde como um todo, que vai além da rotina do cuidado individual.
* Médica, consultora em gestão de serviços de transição e continuidade de cuidados, coordenadora científica do Enconsad e autora do livro “Atenção domiciliar: princípios, práticas e perspectivas”.