Conhecido como home care, o setor de atenção domiciliar tem crescido em um ritmo acelerado no Brasil e demonstrado, durante a pandemia de Covid-19, ser fundamental para a sustentabilidade do sistema de saúde do país. Considerando o último Censo promovido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o número de estabelecimentos utilizando esse tipo de atendimento e cuidados saltou de 676, em junho de 2018, para 830, em dezembro de 2019, ou seja, um aumento de 22,8%.
De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), em 2030, o número de idosos no país ultrapassará o total de crianças entre 0 e 14 anos. O envelhecimento, importante lembrar, traz consigo limitações por conta de perdas físicas ou sensoriais que passam a interferir na relação do usuário idoso com o ambiente construído. Estas perdas devem ser compreendidas, assim como as necessidades que elas demandam, para a elaboração de projetos de espaços públicos, comerciais, equipamentos urbanos e transportes. Isso ocorre também no ambiente domiciliar do indivíduo enfermo. Para que ele tenha uma boa qualidade de vida, deve-se proporcionar o que eu tenho chamado de “arquitetura biopsicossocial”, que é a arte de construir espaços para a vida ter lugar.
É nesse momento que precisamos repensar como a arquitetura para espaços que realizam atendimentos de saúde pode responder melhor ao conforto e à qualidade de vida dos usuários, abandonando antigos paradigmas e adotando soluções da arquitetura biopsicossocial. É aquela arquitetura 5.0 preocupada realmente com o ser humano e o meio em que ele está inserido, envolvendo a execução de estratégias ecologicamente corretas, economicamente viáveis e socialmente justas. Ela é sustentável e saudável, proporciona qualidade de vida, autonomia, segurança e independência, permitindo, assim, acessibilidade, flexibilidade, conectividade e bem-estar. Ambientes seguros, de fácil percepção, simples e intuitivo, para que todos possam fazer uso com independência e igualdade em qualquer época da vida.
Acredito muito no modelo de projetos de centros para a vida saudável, que reduzem as distâncias entre os lares para idosos e os setores de centros de saúde. Vai além dos espaços clínicos ou de atividade física, tomando uma abordagem mais holística, tornando-se destinos acessíveis para programas que cultivam a saúde, o bem-estar e promovem um sentido de lugar e de comunidade. É uma arquitetura funcional humanizada, que avalia a saúde física, social, emocional, mental, espiritual e profissional, satisfazendo completamente os usuários. Seu ambiente físico, seus serviços e seus programas precisam abordar todas as dimensões de bem-estar com igual força.
Percebem como o papel do arquiteto vai muito além de projetar um banheiro acessível? Esse profissional tem caráter fundamental na percepção que o usuário terá do espaço, pois é ele que pode ajudar a promover autonomia e independência, propiciando dignidade no uso dos espaços e das construções. Mais do que nunca, o papel do arquiteto mostra-se relevante, pois ajuda a proporcionar ambientes saudáveis e uma boa qualidade de vida para que o idoso ou o indivíduo enfermo continue a viver o momento presente da forma mais plena e saudável possível.
Bia Gadia
Arquiteta e designer. CEO da BiaGadia Arquitetura e Design.